A dança do
hoje.
A
chuva branda transforma o que era silêncio em trilha sonora, molhando as
janelas de um cenário especial – que agora, se faz colorido – e completando um
encontro que há muito tempo era esperado. O cheiro da terra molhada entra por
todas as frestas e preenche o lugar. A chuva imponente se assemelha a um soneto
em um palco de sensualidade, sem chance de distração para ambos.
Os namorados agora já não são pássaros,
que voam todos os dias em direção ao pensamento amado, procurando se encontrar
em lembranças felizes de coisas que viveram e que ainda vão viver. Mas, hoje
não… Hoje estão juntos. Olham-se nos olhos, se tocam, se cuidam… se amam
incondicionalmente.
Hoje, os corpos compõem nova canção, em
uma intensidade diferente e maior, fogem da escala… O relógio, marcador do
compasso, é generoso. Usam sustenidos e diminutas. Dizem um ao outro palavras
criadas somente para este momento; quase soletram… ninguém mais tem
conhecimento. No íntimo, se encantam! …e cantam notas que não desafinam. Sonham
com os olhos abertos, ouvem baixinho a felicidade chegar… Enxergam as marcas
que a saudade deixou, e se perdem em meio a sorrisos, lembrança do cheiro de um
perfume conhecido, e vontade de ficar ali… pra sempre. Estão sintonizados. Acham-se
na certeza de um presente concreto, e de um futuro próximo e desejado… Perdem e
ganham tempo se admirando com olhares ora cortantes, ora regados de girassóis.
As
batidas dos corações podem ser ouvidas a distância… Mas hoje, essa palavra não
existe mais. Hoje, os devaneios são bem vindos. Os sorrisos vêm das lembranças:
não terão que se despedir naquele dia.
Os
apaixonados se beijam nos lábios por vezes, e dançam conforme a melodia serena
e tímida da chuva; se encontram no embalo de um final de dia tranquilo, e ao
mesmo tempo, no desespero de quem precisa se completar e ser completado. Essa
noite dormirão felizes, com a certeza de que os dois ainda estarão ali quando o
sol aparecer de manhã levando a chuva embora. Os rostos, mantendo a transição
de rubro, tornam o ambiente natural e belo… não querem acordar do sonho. Não
querem ter que se separar.
Os
olhos focados refletem a alegria contida nos tempos de espera… Agora, estão
juntos, e nada cabe em um só… Nada cabe nesse cenário… Tudo enche cada canto,
cada espaço… e então transborda. A casa não está mais vazia. Hoje, transborda
carinho, e cheira a café com paixão.
(
C. Chriss - 17/10/2012 – 01:58 h )