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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A dança do hoje


A dança do hoje.


A chuva branda transforma o que era silêncio em trilha sonora, molhando as janelas de um cenário especial – que agora, se faz colorido – e completando um encontro que há muito tempo era esperado. O cheiro da terra molhada entra por todas as frestas e preenche o lugar. A chuva imponente se assemelha a um soneto em um palco de sensualidade, sem chance de distração para ambos.
        Os namorados agora já não são pássaros, que voam todos os dias em direção ao pensamento amado, procurando se encontrar em lembranças felizes de coisas que viveram e que ainda vão viver. Mas, hoje não… Hoje estão juntos. Olham-se nos olhos, se tocam, se cuidam… se amam incondicionalmente.
        Hoje, os corpos compõem nova canção, em uma intensidade diferente e maior, fogem da escala… O relógio, marcador do compasso, é generoso. Usam sustenidos e diminutas. Dizem um ao outro palavras criadas somente para este momento; quase soletram… ninguém mais tem conhecimento. No íntimo, se encantam! …e cantam notas que não desafinam. Sonham com os olhos abertos, ouvem baixinho a felicidade chegar… Enxergam as marcas que a saudade deixou, e se perdem em meio a sorrisos, lembrança do cheiro de um perfume conhecido, e vontade de ficar ali… pra sempre. Estão sintonizados. Acham-se na certeza de um presente concreto, e de um futuro próximo e desejado… Perdem e ganham tempo se admirando com olhares ora cortantes, ora regados de girassóis.
As batidas dos corações podem ser ouvidas a distância… Mas hoje, essa palavra não existe mais. Hoje, os devaneios são bem vindos. Os sorrisos vêm das lembranças: não terão que se despedir naquele dia.
Os apaixonados se beijam nos lábios por vezes, e dançam conforme a melodia serena e tímida da chuva; se encontram no embalo de um final de dia tranquilo, e ao mesmo tempo, no desespero de quem precisa se completar e ser completado. Essa noite dormirão felizes, com a certeza de que os dois ainda estarão ali quando o sol aparecer de manhã levando a chuva embora. Os rostos, mantendo a transição de rubro, tornam o ambiente natural e belo… não querem acordar do sonho. Não querem ter que se separar.
Os olhos focados refletem a alegria contida nos tempos de espera… Agora, estão juntos, e nada cabe em um só… Nada cabe nesse cenário… Tudo enche cada canto, cada espaço… e então transborda. A casa não está mais vazia. Hoje, transborda carinho, e cheira a café com paixão.

( C. Chriss - 17/10/2012 – 01:58 h )