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sábado, 26 de janeiro de 2013

De olhos abertos


Peço desculpas, moço, por não ser sobre você dessa vez... Foi preciso. Mas deixa estar...
                        
De olhos abertos


Ela dançava com as pedras,
E voava sozinha nas horas vagas.
Nunca imaginou que tudo pudesse ser tão colorido e tão diferente lá de cima.
Seus pensamentos estavam ali. Todos…
E ela os podia alcançar quando quisesse.
Uma mulher lhe oferecia ajuda,
Seu rosto lembrava alguém,
E suas roupas eram feitas de limões.
Então estendeu a mão
Mas ninguém a pegou, estava sozinha de novo.
Uma árvore flamejante lhe dava conselhos:
“Não feche os olhos menina!”
E tropeçou sem querer,
No coração que alguém ali deixou.
Ela costumava achar os corações que as pessoas não queriam mais
E recolhia,
Para o caso de precisar trocar o seu…

Em uma das trocas, mergulhou no abismo que era a própria consciência,
E de lá não pode mais voltar…
Descobriu um mundo negro
Tão negro, que não notava os medos,
E nem as pessoas que ali falavam sem mover a boca
E de repente teve certeza que ali devia ficar.
Talvez quisesse ter pulado de um trem em movimento,
Pois preferia o mundo preto e branco de agora.
Mas pediu pra descer na última estação,
Com lágrimas nos olhos e vontade de voltar pra casa…
Nunca mais voltaria.

Às vezes mentia,
Dizendo que não havia conhecido o colorido
E que nunca havia voado sozinha.
Uma mulher de rosto conhecido bateu nas suas costas,
Ela estava no abismo também,
As roupas eram limões,
E tinha mãos de fogo.
Ouviu a mulher sussurrar em seu ouvido:
“Não feche os olhos menina!”
E antes de fazê-lo, a viu se transformar em árvore,
E sentiu o frio chegar de repente.
Desejou que as mãos de fogo a tocassem,
Mas o frio ali era eterno.
Aceitou então de boa vontade que o frio a envolvesse,
Não sabia de onde conhecia,
Nunca mais sentiu falta da alegria
E então viu que era diferente:
Tudo o que ela queria era virar a cabeça
E ver o mundo ao contrário pelo menos uma vez,
Sabendo que era só virar de novo, e ele invertia.
Talvez quisesse mesmo era ver o mundo do avesso,
Onde pudesse fechar os olhos tranquila,
E pudesse admitir que voava porque gostava.
Onde ela se cuidasse, se curasse,
E as coisas girassem mais, porque gostava dessa sensação.
Onde pudesse ver o preto sobre o preto
E o branco sobre o branco.
Onde as pessoas mexessem a boca ao falar,
Onde fosse sempre noite,
E a loucura fosse considerada normal…
Quem vai dizer?
Talvez ela agora só quisesse voltar à vida,
E desejasse não ter fechado os olhos tão depressa.

(C. Chriss – 12/01/2013 – 03:29h)

Rabisco no canto da página 4...


"Uma hora, a gente se acostuma a ver pessoas partindo... Chega a ser tão comum, que deixa de doer. Difícil mesmo, é não ter pra quem contar, que aquele poema finalmente ficou pronto, juntamente com aquela canção, que tinha dono e cheiro de amor novo..."

( C. Chriss – 26/01/2013 – 23:20h )