Não sei como começar este.
A
cada dia sinto como se me perdesse mais… e na maioria dos casos, eu só queria
ser achada, amor.
É que às vezes, fico me perguntando se
você se lembra de quando te encontrei naquela estrada. Ou será que foi você
quem me encontrou? Não importa. Seus olhos ainda são os mais lindos, moço. Não
esqueci nem por um instante os seus cabelos cacheados e os seus óculos
circulares… Daria qualquer coisa para sentir sua timidez me invadir de mansinho,
para perceber seu olhar se desviando para o chão enquanto fala e seu sotaque
engraçado que me fazia sorrir. Lembro bem de como seu tom de voz mudava no
começo de cada frase… Meus textos nunca deixaram de ter você depois que te
conheci. De você sim, amor, quero esperanças… dê-me fio por fio!
Mas sabe, já faz tempo… e todo esse
tempo, foi a última vez. Senti meu peito apertado, e confesso que chorei, com o
pensamento de que o mundo não tem e nunca teve nós dois. Queria ter a chance de
te mostrar que existem mais coisas do que se pode ver; te provar que é melhor
viver a dois meu bem, e que não se pode explicar tudo. Queria apenas rir das
suas piadas sem graça em um final de semana, e sentar para ouvir as suas
sinfonias preferidas de Ludwig van Beethoven. Mas hoje não… Hoje você está
diferente…
Te percebo bem perto, e espero o momento
certo para mostrar que estou aqui. Sempre estive… talvez você é que nunca tenha
percebido. Os primeiros olhares são de espanto: acho que devia ter avisado que
viria. Não avisei. Os cumprimentos são comuns… Não há nada de especial neles. Desvio
o olhar e te perco de vista por algum tempo - para te achar bem depois - agora
já ciente da minha presença, e disfarçando todo o incômodo pensamento de que
eu, um dia, deixei perceber o quanto quero te roubar e cuidar do seu coração. Minhas
mãos tremem. Seus cabelos continuavam do mesmo jeito, com os pingos de chuva
costumeiros, que já começavam a cair de leve, e salpicavam todos os cachos que
eu tanto amo. A timidez ainda nos acompanha, e meu olhos insistem em te devorar
sem receio. Logo logo estarei partindo pra sua estrada. Não escolhi, meu bem,
juro. O acaso é quem quis assim… ou o destino; chame como quiser. A verdade, é
que estive ali por sua causa, e inventei um monte de mentiras, confesso, apenas
para te ouvir falar mais um pouco sobre mitologia, e sorrir, por estar tão
feliz em te ver. Mas digo que não, se assim preferir. Invento mais mentiras
descaradas, e desculpas insanas para que ninguém saiba; depois, te peço perdão
mentalmente, por erros que nunca cometi. Enfim, não tente me entender. Estou
acostumada a rir dos meus próprios sofrimentos, e a retalhar corações com
pedaços do meu.
Agora é hora de ir embora, amor.
A despedida é ligeira… mas são palavras
que pensarei por toda a noite. Ainda que comuns aos olhos de muitos, tocam meu
coração com o seu tom, caem como um carinho, e ventam como nunca antes alguém
conseguiu fazer. São palavras regadas de frases não terminadas, de expressões
mudadas e medidas, de significados alterados. Sim, meu bem, tenha também um bom
descanso... O último olhar e o último sorriso, levo comigo. Estão agora
trancados entre todas as lembranças que terei dessa noite. Noite chuvosa…
dentro de mim, e fora.
Volto para casa, esperando o dia em que
partirei definitivamente, e que viverei entre mecanismos e laranjas, juntamente
com você, e as sinfonias contagiantes de Ludwig van…
(
C. Chriss - 05/03/2013 – 01:18h )