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terça-feira, 5 de março de 2013

Sinfonias que ventam...


Não sei como começar este.
        A cada dia sinto como se me perdesse mais… e na maioria dos casos, eu só queria ser achada, amor.


        É que às vezes, fico me perguntando se você se lembra de quando te encontrei naquela estrada. Ou será que foi você quem me encontrou? Não importa. Seus olhos ainda são os mais lindos, moço. Não esqueci nem por um instante os seus cabelos cacheados e os seus óculos circulares… Daria qualquer coisa para sentir sua timidez me invadir de mansinho, para perceber seu olhar se desviando para o chão enquanto fala e seu sotaque engraçado que me fazia sorrir. Lembro bem de como seu tom de voz mudava no começo de cada frase… Meus textos nunca deixaram de ter você depois que te conheci. De você sim, amor, quero esperanças… dê-me fio por fio!

        Mas sabe, já faz tempo… e todo esse tempo, foi a última vez. Senti meu peito apertado, e confesso que chorei, com o pensamento de que o mundo não tem e nunca teve nós dois. Queria ter a chance de te mostrar que existem mais coisas do que se pode ver; te provar que é melhor viver a dois meu bem, e que não se pode explicar tudo. Queria apenas rir das suas piadas sem graça em um final de semana, e sentar para ouvir as suas sinfonias preferidas de Ludwig van Beethoven. Mas hoje não… Hoje você está diferente…
        Te percebo bem perto, e espero o momento certo para mostrar que estou aqui. Sempre estive… talvez você é que nunca tenha percebido. Os primeiros olhares são de espanto: acho que devia ter avisado que viria. Não avisei. Os cumprimentos são comuns… Não há nada de especial neles. Desvio o olhar e te perco de vista por algum tempo - para te achar bem depois - agora já ciente da minha presença, e disfarçando todo o incômodo pensamento de que eu, um dia, deixei perceber o quanto quero te roubar e cuidar do seu coração. Minhas mãos tremem. Seus cabelos continuavam do mesmo jeito, com os pingos de chuva costumeiros, que já começavam a cair de leve, e salpicavam todos os cachos que eu tanto amo. A timidez ainda nos acompanha, e meu olhos insistem em te devorar sem receio. Logo logo estarei partindo pra sua estrada. Não escolhi, meu bem, juro. O acaso é quem quis assim… ou o destino; chame como quiser. A verdade, é que estive ali por sua causa, e inventei um monte de mentiras, confesso, apenas para te ouvir falar mais um pouco sobre mitologia, e sorrir, por estar tão feliz em te ver. Mas digo que não, se assim preferir. Invento mais mentiras descaradas, e desculpas insanas para que ninguém saiba; depois, te peço perdão mentalmente, por erros que nunca cometi. Enfim, não tente me entender. Estou acostumada a rir dos meus próprios sofrimentos, e a retalhar corações com pedaços do meu.

        Agora é hora de ir embora, amor.
        A despedida é ligeira… mas são palavras que pensarei por toda a noite. Ainda que comuns aos olhos de muitos, tocam meu coração com o seu tom, caem como um carinho, e ventam como nunca antes alguém conseguiu fazer. São palavras regadas de frases não terminadas, de expressões mudadas e medidas, de significados alterados. Sim, meu bem, tenha também um bom descanso... O último olhar e o último sorriso, levo comigo. Estão agora trancados entre todas as lembranças que terei dessa noite. Noite chuvosa… dentro de mim, e fora.
        Volto para casa, esperando o dia em que partirei definitivamente, e que viverei entre mecanismos e laranjas, juntamente com você, e as sinfonias contagiantes de Ludwig van…


( C. Chriss - 05/03/2013 – 01:18h )

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