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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Coisas de nós.


Coisas de nós.


É primavera.
E eu juro que tentei, moço, escrever algo que não falasse das tuas idas e vindas, da minha espera e do café amargo. Eu juro que tentei. Mas quer saber? Não consigo. Não consigo não falar do teu rosto lindo, apontar seus traços perfeitos, ainda que você jure que eles não existam. Não consigo ver beleza em outras coisas para escrever, afinal, ninguém trás tantos sorrisos guardados na mala como você.       
Não consigo esconder moço, o quanto gosto das suas manias de arrumar o cabelo, de apoiar o rosto nas mãos, ou ainda de cruzar os braços… Não deixo passar uma só mania, sem me admirar e sorrir com elas. Eu estava certa… Sempre estive! Você é felicidade.
Mas de qualquer forma, é estranho. Tudo continua vazio e cheio ao mesmo tempo. Vazio, pois não tem você, e cheio, pois minhas lembranças ocupam cada espaço, cada cantinho nosso, e enchem os discos da vitrola.
Acho mesmo é que desejo tirar do peito o medo, e engolir o desespero, de imaginar que um dia, você possa não mais querer voltar pra casa… Me pego pensando e querendo que você tivesse esquecido algo, qualquer coisa sem importância, mas que te fizesse voltar e dizer “não consigo viver sem isso. Voltei pra buscar”. E aí eu te contaria que as flores por aqui trocaram de estação… Nasceram no inverno, e agora, não nascem mais. Eu te contaria que anseio por um café doce, por um carinho quando escurecer, por uma canção tocada em acordes simples…
Eu sei, volto em cada frase já escrita, moço, volto porque os sentimentos ainda são os mesmos; só o cheiro do café é que agora me repele. Quem sabe um dia, o doce dos teus lábios traga de volta minha vontade de café, porque vontade de você, amor, aqui tá sobrando…
Então, que a primavera chegue de verdade, moço, com o sol e as flores, e principalmente, que traga você junto com ela…

( C. Chriss - 28/09/2012 – 15:49h )

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Amor crescente...


Amor crescente.


Olha a saudade batendo em minha porta, moço… Hoje ela bate. Não sei por que… Geralmente, quando percebo, ela já chegou. Na verdade, ela nunca vai embora… Sou eu que vivo me contradizendo.
Olha a caneca de café amargo em cima da mesa… De verdade? Prometi para mim mesma que não quero mais! Os papéis rasgados ainda estão empilhados no cantinho do quarto… há tanto tempo tudo aqui está fora do lugar! Está confuso, eu sei. Mas logo tudo se ajeita (inclusive os textos), prometo.
        Sento-me no chão lendo encartes de discos, dessa vez, a vitrola canta triste… Vou rabiscando qualquer coisa sem perceber. Eu deveria ter tomado aquela caneta do seu bolso, para agora encaixar um versinho no texto, dizendo que rabiscava formas descoloridas com uma caneta que era sua. Mas sempre tudo aqui dá um jeitinho de ser seu… ainda que não seja.
        Hoje, olhei para o céu por acaso, sem pensar na imagem que tanto admiramos (ou será que ela é que nos admira?), e veja só moço! A lua me sorriu. Sorriu com toda a sua graça, com toda a sua simpatia e beleza. Não estava cheia como em nossos devaneios, não me observava… não criticou meu andar apressado ou meus muitos pensamentos que há tempos não eram dirigidos a ela; ainda que eu tenha ficado triste, por não ter notado esse sorriso antes. Ela só sorriu. E eu devolvi o sorriso, amor, constrangida com tamanha elegância e imponência.
        E então, comecei a contar “coisas de nós”.
        Comecei a dizer o quanto é estranha a nossa história… O quanto as nossas cordas vibram na mesma frequência; o quanto descartamos a possibilidade de desafinar!
        Comecei a dizer o quanto nosso rádio sintonizava as mesmas canções e o quanto dispensava estática… Falei das nossas loucuras, dos nossos dramas, e das conversas sem sentido. Falei de você… e falei de novo! E fiquei falando… Percebi que ela me ouvia atentamente, serenamente. Então continuei narrando a história do casal de loucos apaixonados; história esta, que ela já conhecia.
        Contei dos poeminhas que escrevo, e dos acordes em que te monto todo dia no braço do violão. Eu sei, é clichê mais uma vez, mas é que ainda não consegui parar de recolher os seus sorrisos que ficaram pelos cantos da casa. Guardei um por um, mas toda vez que te lembro, eles se espalham, e às vezes prefiro que eles fiquem por aqui… me fazendo companhia… soltos!
        Contei como você passou a ter nome de amor, e mesmo assim continua sendo moço. Contra a minha vontade!
        Comecei a dizer o que sentia e porque sentia…
E foi aí, que comecei a achar que expliquei porquês demais, moço. Ela não me respondeu… E nem me sorriu mais! Talvez tenha se escondido atrás de uma nuvem, cansada de tanto ouvir sobre você… Talvez, tenha chegado a sua hora de partir, assim como todos temos a nossa. Mas talvez ela só tenha se cansado de sorrir, e como não estava cheia, eu não a notei mais por ali… Acho sinceramente que os porquês devam continuar em seu bolso, assim como ficou aquela caneta, que em agosto, eu queria só para mim.


( C. Chriss - 20/09/2012 – 01:53h )

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Licença para falar sobre você, moço! Mais uma vez…


        Licença para falar sobre você, moço! Mais uma vez…


        Não quero me contradizer, moço, mas hoje a casa está cheia. Está cheia de lembranças, pensamentos e saudade. Tudo o que é meu está por aqui, ocupando espaço demais… Mas falta o principal, amor: falta você que não vem… Que não chega… Então, a casa continua vazia.
        Discos dos Beatles ocupam a mesa que, antes, era cheia de textos sobre você… os textos agora estão por aí, amor, jogados em qualquer canto, por vezes esquecidos, por vezes perdidos… Sirvo-me de um café que me queima a boca, mas não me aquece por dentro. Renuncio esse amargo! Não, já não quero mais.
        Então vem! Traga as suas coisas e coloca junto das minhas! Vamos usar a mesma gaveta para guardar nossas roupas e sentar no chão à noite para ouvir L.U., acordando os vizinhos com nossas gargalhadas e comentários loucos. Vamos passar a noite toda acordados, tocando nosso amor em notas simples de violão e acordes de teclado… Vamos sentar na varanda para observar a lua, que fará questão de se esconder só para nos contrariar… Ah amor! Volta! Mas volta de vez para nossa casa, saia dos meus rabiscos e dos meus discos, pois não quero mais te montar em acordes; não quero mais te lembrar em poeminhas que ninguém entende, não quero mais ter que trocar as lâmpadas de casa sozinha… Vem, amor, traga o ócio em uma tarde de domingo, e o leve embora nas noites de sábado. Me cuide! Deixa que eu te cuide, meu bem. Deixa-me distribuir “bom dia” pelas ruas, sabendo que meu dia só é bom, por causa sua. Deixa solto pela casa aquele seu olhar seguro, de modo que eu possa encontra-lo sempre que procurar em qualquer canto.
Veja só! Tá sobrando saudade… e faltando muitas coisas… Mas eu sobrevivo, afinal, moço, já é setembro, e o inverno tá indo embora!


( C. Chriss -  17/09/2012 – 16:40h)

Últimos minutos.


Últimos minutos.

A lua se esconde tímida atrás de nuvens de chuva, buscando refúgio, em uma noite que terminou cedo demais, sem despedidas. Estaria ela nos observando as escondidas?
As pessoas nas ruas parecem não notar a aparente tristeza que há nos olhos dessa apaixonada: Não pude dizer a ele hoje o quanto o amo. Mas não há problema! Ele sabe. Sabe que eu o amo, e o espero.
A brisa que agora toca meu rosto, me faz lembrar de palavras ditas em outro momento do dia. Fecho meus olhos, e sinto… Sinto apenas. Em silêncio, faço uma oração… Sim, esse é meu pedido!
Ah vento! Toque-me! Toque a ele! …e leve um beijo meu. Sussurre em seu ouvido tudo aquilo que eu ainda queria dizer hoje, e não pude. Faça com que ele se sinta envolvido, amado, ou que pelo menos feche os olhos assim como eu, e agradeça por ter sido tocado também! Que nesse momento, ele não sinta frio, não se sinta incomodado com sua presença. Que ele me ouça dizer “eu te amo”, que sinta o meu perfume, levado com todo o cuidado até ele, e saiba que aqui, alguém queria estar no lugar dessa brisa, o abraçando, envolvendo, beijando. Que por pelo menos alguns segundos, essa distância física seja vencida, faça com que ele se sinta perto de mim; que tenha certeza que essa brisa chega até ele cheia de lembranças de um regresso, transbordando carinhos, e com os sentimentos de alguém que gostaria de ter dito “eu te amo”, antes que nossa noite terminasse. Então vá depressa, vento! Vá e toque aquele moço… Não um moço qualquer, mas, o meu moço! Aquele a quem tantas vezes já lhe falei por essas madrugadas; aquele que leva consigo um sorriso que eu adoro, e que é a causa do meu. Aquele que me tira o sono! Sim vento, leve meu beijo até ele ainda nessa noite, e murmure palavras de saudade na sua janela, por todo o tempo em que eu não estiver por perto.
Como eu queria voltar alguns minutos atrás! Talvez, quem sabe, cortar alguns risos meus e palavras desnecessárias, somente para poder ouvir mais vezes o riso dele, e para dizer o quanto ele é importante em minha vida. Quem sabe o silêncio não fosse preenchido com tudo aquilo que eu tanto desejava dizer a ele hoje… Antes que a cor do dia se esvaísse… Antes, que a pior parte do dia chegasse… Antes que a nossa ligação terminasse.



( C. Chriss -  28/08/2012 – 20:58h )

Ainda em agosto...


Ainda em agosto…

"... O sol vai se pondo de mansinho, os pássaros já levantam voo, felizes, como que agradecendo por mais um dia que vai terminando. O moço, se torna terceira pessoa, para alguém que se lembra do dia da sua volta, e que rabisca uma folha qualquer que encontrou para escrever, com uma caneta que mais borra que escreve. Mas na verdade, quem liga? Onde estaria agora o meu amor? Teria ele olhado para o céu, a procura de algo que o fizesse lembrar de tão linda noite de agosto, onde gostos se misturavam, e, onde apaixonados, os amantes e ouvintes de boa música, leitores de bons livros, e apreciadores da lua e das palavras, se encontravam e sentiam o amor um do outro? Teria ele também hoje, pensado em tão perfeito dia? Sei, que as vezes a gente se perde… Se perde em meio a devaneios, lembranças de carinho e cheiro de café com saudade. Mas logo a gente se encontra! Os reticentes se encontram um no outro, se encontram no que há de igual, se encontram em sonhos e planos para o futuro. Quase posso ver os sonhos do moço daqui; já posso os sonhar também, sem que ele saiba disso. Já me vejo exigindo aquele sorriso que mudou o meu dia em uma noite de agosto, e minha vontade é de dizer para ele, que uma xícara de café amargo, já não satisfaz meu dia pela manhã. Tenho necessidade e vontade do doce! Do doce dos lábios dele… Do doce que ele trás consigo na mala. Tenho necessidade do colorido que transborda, do amargo indo embora…”



( C. Chriss - 28/08/2012 – 15:14h )

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Déjà vu


"E talvez, ficar assim... em um dia como hoje, só eu e você. E eu vou te fazer sorrir, vou brincar com a sua roupa, e vamos perder o fôlego. Talvez, por causa das brincadeiras, talvez, por causa do nosso amor... Como dois apaixonados, só teremos um ao outro. Sem medos, receios... nada! Só certezas, só carinho. E assim, vamos nos amando. Cada dia de um jeito diferente, e ao mesmo tempo, tão igual. E eu vou me preenchendo com cada gargalhada sua, com cada mania, com cada gesto, cada gosto. Gosto meu, gosto seu... Vou me amparando nos seus braços, braços que me envolvem e me cuidam... Braços que me puxam para si pela cintura! (...) Como quero esse abraço... Me ame, amor, me cuide... Seja assim... Seja meu!"



 (C. Chriss - 24/06/12 - 02:06h)


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um amor e um café, quentes por favor!


Sobre amores... e café! 


Um lindo dia, para quem já bebeu saudade nessa manhã... E já sentiu o café, talvez um pouco amargo, e com gostinho de distância... Sim, amor, o café não foi tão doce. Na verdade, nunca foi, já que não tem o seu gosto.
Talvez um dia, o gosto seja doce também pra você. E assim, seremos dois embebedados de saudade, e simplesmente cheirando a café de manhã e amor. E vamos nos sentar juntos para ler as notícias do dia, você no chão, eu no seu colo, e vamos rir das opiniões divergentes, tendo cada dia mais a certeza de um amor colorido. O gole de café é só para aquecer o coração que te espera ansioso, e para afastar dos olhos, as lágrimas tão rejeitadas. E de qualquer forma, amor meu, eu tenho que agradecer por todas as vezes que despertei de um sonho sorrindo, ou ainda por todas as vezes que me lembrei das flores que não nascem em maio ou agosto, mas que nesse ano, nasceram imponentes… Afinal, são raras as flores que nascem no inverno…

( C. Chriss -  16/08/2012 – 15:44h )

domingo, 9 de setembro de 2012

Estradas

        Estradas



Aquela despedida não devia durar tanto.
Em poucos minutos as minhas roupas já estavam guardadas e os meus poucos pertences, reunidos. O ultimo banho naquele lugar se fez demorado… a água já não era tão quente como antes. Lembro-me de como seus olhos pareceram me procurar naquela noite, e de como me senti quando eles encontraram os meus. Eu não queria que fosse a hora! Talvez fosse cedo demais… Ou tarde demais pra se despedir…
Uma última xicara de chá naquela cozinha… Já não tinha o mesmo gosto. O chá que antes parecia doce e puro, tem agora gosto de angústia, tristeza, ou talvez, apenas saudade. Fica no meu peito uma culpa: não tomamos nosso ultimo chá juntos. Os porta-retratos vazios espalhados pela casa me lembram das muitas promessas que fiz, de colocar as nossas fotos ali… Mas são promessas que nunca cumpri, e por isso, me arrependo. Não vou leva-los comigo… nem as fotos. Talvez, eu nem mesmo as tenha mais. Algumas rasgadas, outras perdidas pelos cantos… agora, tanto faz…
Ao me olhar no espelho já não me reconheço. Como mudei. O cabelo despenteado, os olhos cansados… talvez você não mais me reconhecesse. Nem eu reconhecia. Consequências de noites mal dormidas, preocupações sem fim, e falta de você.
Na nossa varanda tudo parece triste. As árvores já não são tão verdes, e o cheiro das plantas não é mais o mesmo. As gotas de orvalho já não são tão interessantes para mim… mas quem liga? Realmente é hora de partir.
A estrada parece infinita. Eu tenho agora caminhos para escolher. O violão nas costas me condena: sou mais uma apaixonada insatisfeita. Ah… como eu queria naquela noite pedir que me levasse com você, moço. Como eu queria ao menos pedir para que ficasse… ficasse ali, ficasse comigo. Nem que fosse por apenas mais um dia, ou mais um mês… pra sempre.


( C. Chriss - 31/05/2012 – 03:07h )

Esperando...


"E enquanto você não vem, sua presença fica assim... nos últimos livros que li, nas folhas rabiscadas cheias de anotações de amor incompletas, no último texto que escrevi, e por sinal, é seu. Na música que ouço todo dia no mesmo horário... Ouço, porque me faz lembrar de você e da nossa saudade... e assim vou cantarolando baixinho, tentando dar sentido para um dia que é seu. Seu em pensamentos; seu, em carinhos que não terei hoje... Seu, porque todas as coisas aqui são suas. Então, venha! Vem e toma conta do que é seu. Coloca no lugar essa desordem, ajeita o meu coração! Traz esse sorriso que me fascina, e eu estarei feliz. Põe a sua mão na minha, e deixa eu te mostrar que será assim pra sempre, eu vou estar esperando você voltar a cada segundo, talvez na janela, talvez na escada... Talvez por acaso! Mas cheia de saudade e sentimentos novos, cheia do nosso carinho! Então, vem! Vem amor, chegue agora, e me pegue te esperando!" 


(C. Chriss - 20/06/2012 – 10:31h)

Neblina e solidão


         Neblina e solidão

 (...) Naquela noite eu resolvi abrir a janela do quarto, e observar o que acontecia do lado de fora, enquanto as pessoas dormiam… Estaria você acordado também? Ou será que dormia tranquilamente, sonhando com alguma garota que não fosse eu? O silêncio daquela noite me sufocava… ela já não me parecia tão bonita como nos outros dias em que a contemplei: uma neblina começava a se formar no céu sem estrelas. Estava frio, mas isso não me importava. Eu tinha vontade de sair… ir para qualquer lugar onde você não estivesse, onde não pudesse me achar. Ou ainda, um lugar onde não existisse você e toda essa solidão. Solidão que eu não queria! Mas que você insistia em me fazer mergulhar, cada vez mais fundo.
        Meu modo de olhar o céu fazia apenas com que surgissem mais pensamentos. Logo, eu estava imaginando, como seria se você estivesse também pensando em mim agora… Como seria, se você estivesse também olhando o céu, a procura de estrelas que não existiam naquela noite, e a espera da lua, lua que não viria nos visitar? Talvez ela também estivesse triste, querendo se esconder entre as nuvens, sem ter vontade de ver mais uma apaixonada, que chora na janela, pensando no seu amado… Seu, ou talvez nem tanto…
        Ah! Como eu queria fazer como a lua… Me esconder entre as nuvens a procura de refúgio. Onde eu pudesse lhe observar, sem que soubesse disso. E então, eu não precisaria escrever sobre você, pois você é que escreveria sobre mim, em um texto cheio de elogios, exaltando a minha beleza. E quando fosse noite, eu iria clarear o céu, entraria por sua janela para ter o prazer de te ver dormir, e ficaria ali… Por horas e horas, vigiando sua respiração, seu sorriso vindo de um sonho bom, e você não saberia. E eu te amaria a escondidas, te amaria como nenhuma outra apaixonada seria capaz de amar, te amaria sem você saber. E quando amanhecesse moço, com hora marcada, eu iria embora… Deixaria o sol brilhar, e não teria a dor de te ver amando outro alguém, para poder na noite seguinte, voltar a sua janela, e mais uma vez te observar em silêncio, como um amor platônico, que acontece todas as noites. Até que chegaria o dia, em que eu iria te visitar, e você não estaria dormindo… Estaria na janela, me esperando chegar. E eu deixaria a luz tocar a sua pele, veria a mim mesma refletida em seus olhos, e choraria quando chegasse a hora marcada, hora de partir e dar lugar ao sol. E então, eu viveria os dias para esperar a hora do nosso encontro, para poder por algumas horas, me sentir importante para você, e talvez, conseguir te arrancar um sorriso, sorriso esse que eu tanto amo.
        Mas eu não sou a lua, moço. Então, durma bem, enquanto eu passarei mais uma noite pensando em você, olhando o céu da minha janela, e imaginando como seria bom, se você também estivesse pensando em mim…



( C. Chriss - 05/05/2012 – 00:43h)

Despedida


Despedida.

 Certas coisas me apertam o coração... Um sorriso diferente, momentos onde as palavras faltam e os olhares se completam... Vontade de dizer algo, e ao mesmo tempo, não dizer... Vontade de abraçar e não soltar mais... Ou ainda, de não abraçar, para não ter que soltar. Eu compreendo olhares, eu sei ler expressões... E gostei muito do que vi.
Aquele seu sorriso de lado, o silêncio que se seguiu… deu vontade de pedir para que ficasse. Sem interesses, sem explicações. Apenas ficasse, e sorrisse para mim mais uma vez. Gestos que não são notados pelos outros: um simples toque das mãos, ou ainda, seu olhar que se encontra com o meu, em momentos que não esperamos. Ninguém parece perceber o encanto, a magia, que faz questão de se fazer presente. Seria essa magia só minha? Quanto tempo mais me restava para sentir sua presença ali, para poder te olhar - ainda que impercebível - e mais uma vez confrontar com meus pensamentos, em uma briga mortal entre minha mente e meu coração, razão e sentimento? Você parecia fugir de mim a cada vez que isso acontecia.
O frio parece intensificar aquilo que já se faz tão intenso. Minhas mãos estão geladas, mas esse frio não vem da noite. Esse frio vem daquele olhar, daquele gesto, daquela magia. Sentimentos que tento esconder, mas que vão além de mim. Minha mente mostra seus argumentos: “Coração insensato!” Ela diz… Ele não se importa. Os sentimentos tomam ainda mais conta de mim… Ocupam cada canto do meu ser, até que a minha mente se dá por vencida. Já não posso mais pensar. Não posso mais esperar. E assim acontece a despedida… Um abraço que foi esperado por toda a noite, um beijo no rosto, que agora não sai mais dos meus pensamentos, e tristeza, por ver a distância se aproximando lentamente, tão disposta a ficar… Quanto tempo? Tempo suficiente para me enlouquecer, fazer você fugir de mim mais uma vez, e levar embora todas as minhas esperanças.




( C. Chriss - 01/05/2012 – 23:40h )

Formas e café


Formas e café.


Moço, a noite vem chegando… Reparo no sol tocando pela última vez nesse dia a copa das árvores, o alto dos morros e dos prédios. A sombra que a pouco se fazia tímida, vem inundando cada espaço, até me tocar friamente; fazendo com que os telhados das casas próximas projetem formas estranhas e distorcidas no asfalto. Os pássaros que rodeavam as árvores já partiram… levando consigo todas as expectativas de que você pudesse resolver voltar. Começo a procurar pelos cantos, qualquer vestígio de que você estivera realmente ali… Acho cartas endereçadas que não foram entregues; mil textos escritos com a minha letra cansada (alguns riscados em toda a parte), falando de um tal “moço”… rasgo alguns… guardo outros. Mais nada.
Minha vontade é de implorar para que o sol fique e me aqueça mais um pouco, assim como quis fazer quando você partiu. Já faz tanto tempo… Estaria você agora, sendo tocado por esses últimos raios? Ou será que já estaria como eu, engolido contra a vontade pelas sombras dessa noite que chega? Estaria você sorrindo, com o coração acalorado por ter tido um bom dia? Não chegarei a saber…
Está frio agora…
O sol se foi totalmente.
Queria te encontrar caminhando distraidamente pelos jardins de casa… Com as mãos nos bolsos do casaco para se aquecer do frio, cantarolando uma canção conhecida, qualquer uma daquelas que vivíamos discutindo se eram boas ou não… e tomaríamos uma caneca de café juntos, e eu te faria sorrir, com minha mania estranha de “café com água”. E assim, já aquecidos, você inibiria o silêncio que se faz aqui desde que você partiu, e me contaria sobre o seu dia, eu me perderia em suas palavras, pensando apenas em te dizer “obrigada moço. Obrigada por estar de volta”. E nossa conversa animada encheria a casa, sairia pelas janelas acordando os vizinhos, e minhas gargalhadas me condenariam: sabe como me faz feliz… e você traria de volta consigo moço, além das malas, o colorido do lugar. O cheiro daquele carinho novo, que sempre te falo.
E a gente se amaria simplesmente. Simples, mas de todas as formas possíveis.
Mas o café, hoje, já não se faz tão necessário… Quem sabe nem tenha o mesmo gosto… Talvez para mim, ele agora pareça amargo, já que tudo parece sem doce, se não tem o gosto dos seus lábios.
Sabe, talvez eu tenha ciúmes do sol… que pode beijar sua pele todos os dias, e aquecê-la, sem que você perceba necessariamente. Queria poder me deitar ao seu lado quando fosse noite, pedindo em pensamentos para que o dia não chegue tão depressa. E quando fosse manhã, moço, e o sol entrasse por nossa janela para te tocar, eu fecharia as cortinas, e te beijaria com ciúmes: “não… você hoje, só vai sentir o meu calor”.



( C. Chriss -  20/07/2012 – 15:09h )

64/85


64/85

        Eis o grito!
        Eis o grito do povo! Mas não do povo escolhido, eis o grito do povo sem escolha.
        Eis o grito! Eis o grito do povo oprimido! Grito estrangulado, preso na garganta.
        Eis o grito dos excluídos, dos que se tornaram logo enjaulados.
       
Eis o grito!
Eis o grito dos encarcerados, que foram as ruas e lutaram; que abriram fogo contra o sistema, e acabaram por delimitar, contra a vontade, o seu triste espaço.
        Eis o grito dos que não mais se encontrarão, dos familiares que não mais se verão, não se abraçarão…
        Eis o grito clichê de mãos que se separaram, dos corações que se dividiram, cada qual seguindo seu próprio caminho de escuridão.
       
Eis o grito!
        Eis o grito da mulher que chora a morte do filho corajoso, que não volta mais para a casa. Aquele que foi às ruas, lutou por um país melhor, e que agora, jaz, não se sabe onde, com uma bala na cabeça. Já não agoniza, e nem luta por seus ideais, é apenas mais um número, é mais uma vitima do sistema.
        Eis o grito contra o tempo, tempo que já não temos!
       
        Eis o grito!
Eis o grito da interminável perseguição, dos nomes falsos, dos tiros no peito!
        Eis o grito trancado entre a fuga desesperada e sofrida, dos que imploraram para que a vida, não lhes fosse tirada.
        Eis o grito dos torturados e dos segredos revelados.
        Eis o paradoxo do grito silencioso e humilde, dos que protestavam indiretamente com o violão as costas.
       
        Eis o grito!
Eis o grito dos exilados!
        Eis o grito da terra, chamando por seus filhos esquecidos.
        Eis o grito mentiroso que vem dos meios de comunicação.
Eis o grito dos protestantes, soldados loucos, não treinados.
        Eis o grito dos fracassados, das inúmeras batalhas perdidas…
        Eis o grito!
Eis o grito contra a censura! Eis o grito contra a ignorância, eis o grito contra o silêncio de muitos, e a favor das palavras de poucos.
        Eis o grito pela liberdade, pela expressão.
Eis o grito para se poder gritar.
        Eis o grito abafado da mudança, dos que imploram pela queda do sistema…
Eis o grito com gosto amargo de morte.
       
Eis… o pedido de paz…

Período da Ditadura Militar no Brasil

        ( C. Chriss -  04/12/2011 – 17:03h )