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domingo, 9 de setembro de 2012

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        Eis o grito!
        Eis o grito do povo! Mas não do povo escolhido, eis o grito do povo sem escolha.
        Eis o grito! Eis o grito do povo oprimido! Grito estrangulado, preso na garganta.
        Eis o grito dos excluídos, dos que se tornaram logo enjaulados.
       
Eis o grito!
Eis o grito dos encarcerados, que foram as ruas e lutaram; que abriram fogo contra o sistema, e acabaram por delimitar, contra a vontade, o seu triste espaço.
        Eis o grito dos que não mais se encontrarão, dos familiares que não mais se verão, não se abraçarão…
        Eis o grito clichê de mãos que se separaram, dos corações que se dividiram, cada qual seguindo seu próprio caminho de escuridão.
       
Eis o grito!
        Eis o grito da mulher que chora a morte do filho corajoso, que não volta mais para a casa. Aquele que foi às ruas, lutou por um país melhor, e que agora, jaz, não se sabe onde, com uma bala na cabeça. Já não agoniza, e nem luta por seus ideais, é apenas mais um número, é mais uma vitima do sistema.
        Eis o grito contra o tempo, tempo que já não temos!
       
        Eis o grito!
Eis o grito da interminável perseguição, dos nomes falsos, dos tiros no peito!
        Eis o grito trancado entre a fuga desesperada e sofrida, dos que imploraram para que a vida, não lhes fosse tirada.
        Eis o grito dos torturados e dos segredos revelados.
        Eis o paradoxo do grito silencioso e humilde, dos que protestavam indiretamente com o violão as costas.
       
        Eis o grito!
Eis o grito dos exilados!
        Eis o grito da terra, chamando por seus filhos esquecidos.
        Eis o grito mentiroso que vem dos meios de comunicação.
Eis o grito dos protestantes, soldados loucos, não treinados.
        Eis o grito dos fracassados, das inúmeras batalhas perdidas…
        Eis o grito!
Eis o grito contra a censura! Eis o grito contra a ignorância, eis o grito contra o silêncio de muitos, e a favor das palavras de poucos.
        Eis o grito pela liberdade, pela expressão.
Eis o grito para se poder gritar.
        Eis o grito abafado da mudança, dos que imploram pela queda do sistema…
Eis o grito com gosto amargo de morte.
       
Eis… o pedido de paz…

Período da Ditadura Militar no Brasil

        ( C. Chriss -  04/12/2011 – 17:03h )

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