Formas
e café.
Moço,
a noite vem chegando… Reparo no sol tocando pela última vez nesse dia a copa
das árvores, o alto dos morros e dos prédios. A sombra que a pouco se fazia
tímida, vem inundando cada espaço, até me tocar friamente; fazendo com que os
telhados das casas próximas projetem formas estranhas e distorcidas no asfalto.
Os pássaros que rodeavam as árvores já partiram… levando consigo todas as
expectativas de que você pudesse resolver voltar. Começo a procurar pelos
cantos, qualquer vestígio de que você estivera realmente ali… Acho cartas endereçadas
que não foram entregues; mil textos escritos com a minha letra cansada (alguns
riscados em toda a parte), falando de um tal “moço”… rasgo alguns… guardo outros. Mais nada.
Minha
vontade é de implorar para que o sol fique e me aqueça mais um pouco, assim
como quis fazer quando você partiu. Já faz tanto tempo… Estaria você agora,
sendo tocado por esses últimos raios? Ou será que já estaria como eu, engolido
contra a vontade pelas sombras dessa noite que chega? Estaria você sorrindo,
com o coração acalorado por ter tido um bom dia? Não chegarei a saber…
Está
frio agora…
O
sol se foi totalmente.
Queria
te encontrar caminhando distraidamente pelos jardins de casa… Com as mãos nos
bolsos do casaco para se aquecer do frio, cantarolando uma canção conhecida,
qualquer uma daquelas que vivíamos discutindo se eram boas ou não… e tomaríamos
uma caneca de café juntos, e eu te faria sorrir, com minha mania estranha de
“café com água”. E assim, já aquecidos, você inibiria o silêncio que se faz
aqui desde que você partiu, e me contaria sobre o seu dia, eu me perderia em
suas palavras, pensando apenas em te dizer “obrigada moço. Obrigada por estar
de volta”. E nossa conversa animada encheria a casa, sairia pelas janelas
acordando os vizinhos, e minhas gargalhadas me condenariam: sabe como me faz
feliz… e você traria de volta consigo moço, além das malas, o colorido do
lugar. O cheiro daquele carinho novo, que sempre te falo.
E
a gente se amaria simplesmente. Simples, mas de todas as formas possíveis.
Mas
o café, hoje, já não se faz tão necessário… Quem sabe nem tenha o mesmo gosto…
Talvez para mim, ele agora pareça amargo, já que tudo parece sem doce, se não
tem o gosto dos seus lábios.
Sabe,
talvez eu tenha ciúmes do sol… que pode beijar sua pele todos os dias, e
aquecê-la, sem que você perceba necessariamente. Queria poder me deitar ao seu
lado quando fosse noite, pedindo em pensamentos para que o dia não chegue tão
depressa. E quando fosse manhã, moço, e o sol entrasse por nossa janela para te
tocar, eu fecharia as cortinas, e te beijaria com ciúmes: “não… você hoje, só
vai sentir o meu calor”.
( C.
Chriss - 20/07/2012 – 15:09h )
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