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domingo, 9 de setembro de 2012

Formas e café


Formas e café.


Moço, a noite vem chegando… Reparo no sol tocando pela última vez nesse dia a copa das árvores, o alto dos morros e dos prédios. A sombra que a pouco se fazia tímida, vem inundando cada espaço, até me tocar friamente; fazendo com que os telhados das casas próximas projetem formas estranhas e distorcidas no asfalto. Os pássaros que rodeavam as árvores já partiram… levando consigo todas as expectativas de que você pudesse resolver voltar. Começo a procurar pelos cantos, qualquer vestígio de que você estivera realmente ali… Acho cartas endereçadas que não foram entregues; mil textos escritos com a minha letra cansada (alguns riscados em toda a parte), falando de um tal “moço”… rasgo alguns… guardo outros. Mais nada.
Minha vontade é de implorar para que o sol fique e me aqueça mais um pouco, assim como quis fazer quando você partiu. Já faz tanto tempo… Estaria você agora, sendo tocado por esses últimos raios? Ou será que já estaria como eu, engolido contra a vontade pelas sombras dessa noite que chega? Estaria você sorrindo, com o coração acalorado por ter tido um bom dia? Não chegarei a saber…
Está frio agora…
O sol se foi totalmente.
Queria te encontrar caminhando distraidamente pelos jardins de casa… Com as mãos nos bolsos do casaco para se aquecer do frio, cantarolando uma canção conhecida, qualquer uma daquelas que vivíamos discutindo se eram boas ou não… e tomaríamos uma caneca de café juntos, e eu te faria sorrir, com minha mania estranha de “café com água”. E assim, já aquecidos, você inibiria o silêncio que se faz aqui desde que você partiu, e me contaria sobre o seu dia, eu me perderia em suas palavras, pensando apenas em te dizer “obrigada moço. Obrigada por estar de volta”. E nossa conversa animada encheria a casa, sairia pelas janelas acordando os vizinhos, e minhas gargalhadas me condenariam: sabe como me faz feliz… e você traria de volta consigo moço, além das malas, o colorido do lugar. O cheiro daquele carinho novo, que sempre te falo.
E a gente se amaria simplesmente. Simples, mas de todas as formas possíveis.
Mas o café, hoje, já não se faz tão necessário… Quem sabe nem tenha o mesmo gosto… Talvez para mim, ele agora pareça amargo, já que tudo parece sem doce, se não tem o gosto dos seus lábios.
Sabe, talvez eu tenha ciúmes do sol… que pode beijar sua pele todos os dias, e aquecê-la, sem que você perceba necessariamente. Queria poder me deitar ao seu lado quando fosse noite, pedindo em pensamentos para que o dia não chegue tão depressa. E quando fosse manhã, moço, e o sol entrasse por nossa janela para te tocar, eu fecharia as cortinas, e te beijaria com ciúmes: “não… você hoje, só vai sentir o meu calor”.



( C. Chriss -  20/07/2012 – 15:09h )

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